martes, 19 de abril de 2011

Blogagem Coletiva Mães Internacionais: A Amamentação na Costa Rica

Sim eu ando meio sumida, mas eu não podia deixar de participar de um assunto tão importante pra mim e seguramente um dos mais polêmicos na maternidade. Eu mesma, fui uma bezerrinha amamentada até quase os 2 anos. Quando eu me descobri grávida eu tinha duas certezas: Queria parto normal e iria amamentar. O primeiro não consegui, o segundo passou a ser uma questão de honra e claro que depois de superadas algumas dificuldades eu consegui, amamento o Samuel até hoje (já estamos em processo de desmame) e poderia doar leite para uns 2 bebês mais tamanha a produção. Mas como tudo na maternidade, nem tudo são flores e a coisa não é tão fácil e simples como se imagina.

Aqui na Costa Rica foi criado em 2009 uma Política Pública de Lactação Materna, o que determina que a amamentação materna é parte da saúde pública e que tanto as mães como as intituições de saúde, assim como os empregadores têm deveres e direitos a ser cumpridos. Essa política segue, na medida do possível as diretrizes recomendades pela OMS e pela Unicef entre outras organizações. Estabelece a amamentação como norma biológica e por tanto deve ser apoiada e incentivada exclusivamente até os 6 meses e como complemento até os 2 anos. Também estabelece que médicos, postos de saúdes, clínicas particulares e outros não devem promover a alimentação artificial, bem como o uso de chupetas e mamadeiras e também que as mães devem ter direito a informação através de clínicas guias, postos de saúde e funcionários de saúde. 

O código do trabalho estipula que uma mãe em fase de lactação não pode ser despedida (se considera apenas um período de 3 meses após o parto)e que as funcionárias devem ter um espaço apropriado para a amamentação no local de trabalho. E tem direito a 1 hora e meia durante o horário de trabalho destinado a amamentar que pode ser dividido em 45 minutos de manhã e de tarde ou pode ser distribuidos da forma que a funcionária e o empregador concordarem.

Essa é a teoria, na prática nem sempre é assim. Na Costa Rica 96% dos bebês são alimentados com leite materna só ao nascer, o número cai pra 53% aos 3 meses e aos seis meses  apenas 18% ainda recebem leite materna. A maioria das empresas não disponibilizam um espaço pra que a mãe possa amamentar e ir pra casa amamentar ou levar o bebê ao local de trabalho para que seja amamentado é inviável.


A informação ainda é muito escassa,  durante todo o curso de parto esperei informação  e apenas falaram sobre a forma correta de posicionar o bebê e pomadas para rachaduras. Em nenhum momento no entanto, ensinaram os exercícios para proteger a pele do bico e para bicos invertidos tão importantes para evitar as rachaduras (eu mesma quase não tive graças a eles) ou como fazer ordenha manual. Quase tudo o que eu aprendi sobre a amamentação foi  com a minha mãe ou através da internet. Não há campanha como nós vemos no Brasil por exemplo e entre as mães a crença de que o leite materno é fraco e não sustenta ainda é muito forte. 

No hospital, na sala de pós parto, se recebe uma pequena explicação de uma enfermeira encarregada de como deve ser a amamentação, forma correta de colocar o bebê e elas ajudam rapidamente àquelas mães que estiverem tendo maiores problema. Mas é só. Uma amiga que teve um bebê há 2 meses me contou que agora duram quase 1hora falando as vantagens, ensinando, convencendo as mulheres de que o leite não é fraco e que todas temos leite e todas produzimos. Tanto que essa amiga, mãe de outros dois alimentados com leite artificial voltou super empolgada e disposta a amamentar. Achei isso uma ótima novidade, já que se conseguiram transformar a forma de pensar dela, estão conseguindo o objetivo. Quando eu tive o Samuel eles recomendavam a livre demanda (foi oque eu fiz), agora parece que recomendam uma rotina  de 3 em 3 horas.

Outro ponto positivo é a chamada Clínica de Lactação. Lá, um médico especialista ensina as mães de bebês com dificuldade para amamentar. Infelizmente, ninguém sabe que existe eu mesma só conheci porque o Samuel tinha dificuldade e perdeu muito peso na primeira semana e na primeira consulta de controle a médica me mandou pra lá. Eles ensinam a forma correta, verificam se o bebê sabe sugar e ensinam a estimular a sucção em caso de que ele não saiba, ensinam a translactação às mães de bebês que ficaram internados e receberam o leite por sonda e que nào pegam o peito. Enfim. é uma ótima proposta muito pouco aproveitada e apoiada já que a tal clínica fica numa salinha de 1m² e quase ninguém sabe nem onde fica. O médico, um visionário  foi ao Brasil conhecer os Bancos de Leite e sonha em  implantá-los por  aqui, ainda não conseguiu.

Para concluir, apesar de incentivada a amamentação, de ser a melhor opção para o bebê, de conhecidos os benefícios, a amamentação ainda é muito pouco acreditada por parte das mulheres. Muitas desistem diante dos percalços no caminho. Não, não é nada simples e fácil como a gente imagina. Dói, é cansativo porque só a mãe pode fazer, ás vezes incomodo, se o peito fica muito cheio ou vaza, mas para mim sempre foi a única opção e apesar de já estar cansada depois de 1 ano e 7 meses eu me orgulho do Samuel ter sido amamentado prolongadamente e faria de novo. 

O leite materno é sim a melhor escolha, é infinitamente mais barato, e sim alimenta e enche a barriga do bebê. Ele só tomou leite materno e depois que aprendeu a tomar direitinho ele engordava até mais do recomendado ás vezes. Ah e pras mamães preocupadas com emagrecer o peso da gravidez, nada melhor que amamentar, eu mesma comia muuuuito e ainda emagreci uns 10 quilos só amamentando. 

Enfim, espero ter contribuído e aclarado alguns pontos sobre o tema. E se alguém me perguntar eu sempre vou recomendar a amamentação. Dê uma chance à natureza, ela sabe das coisas, afinal não é por nada que somos mamíferos não é mesmo???

Se você quiser saber mais sobre outras experiências com a amamentação e/ou como funciona em outros países visite o site  Mães Internacionais.


* Fontes: Ley N° 7430 FOMENTO DE LA LACTANCIA MATERNA, http://www.ministeriodesalud.go.cr,Periódico La Nación.

8 comentarios:

  1. Oi Paula, voces precisam divulgar essa Clinica de Lactacao! Bjs

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  2. Paula, excelente texto, pena a teoria ser linda e a pratica estas tao atras, ne!

    Sobre emagrecer, eu sou prova do contrario! Eu sentia MUITA fome, comia MUITO e engordei 3kg, mesmo amamentando exclusivamente durante 5 meses e meio. Vai entender?!

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  3. pelo visto a costa rica tem toda a parte burocratica pronta pra proteger as maes, mas na pratica é sempre diferente ne? Que bom que com vc deu tudo certo, apesar das dificuldades do começo! torço pra ter a mesma sorte. bjs!

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  4. Tão distantes a teoria e a prática.
    No hospital onde o Guilherme nasceu também me deram muito pouca orientação, as enfermeiras queriam que eu comesse (mas não tinha comida pra mim) e esperasse pela "especialista" e eu louca para dar o peito. A sorte foi ter minha mãe ao meu lado para me ajudar por que a mocinha do banco de leite apareceu mais de nove horas depois do parto. Assim como a Clínica de Lactação ai, o trabalho dos bancos de leite no Brasil não é bem divulgado, muita gente acha que é só para coletar e doar leite, quando na verdade eles orientam e ajudam mães e bebês com dificuldades.
    Bjs

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  5. Paula, adorei o texto! Bem completo.
    Acho super importante a informaéáao antes do parto, eu, quando estava grávida do meu primeiro ficava indo em um monte de palestras e ginastica para grávida, tudo por conta do governo, nao paguei pelas informacoes e tinha programa de sobra, acho que parte da minha persistencia foi a seguranca dessa informacao toda que ganhei e mesmo com dificuldade consegui o que queria.
    Gostei mesmo... Beijinhos!

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  6. Paula,
    Adorei o texto!
    Aqui na França não ha muitos bancos de leite, tanto é que numa das visitas do Sarkô no Brasil, a Carla Bruni visitou um banco de leite. Foi motivo de elogios.

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  7. Oi Paula!! VIm aqui desejar uma otima pascoa para vcs..cheia não so de chocolates(hehehe),mas sim de amor e muita luz!! Para vc e toda a sua familia!!
    beijos!!
    ;-)

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  8. Essa garota deveria trabalhar em um jornal!
    Muito bom o texto...

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