Sim eu ando meio sumida, mas eu não podia deixar de participar de um assunto tão importante pra mim e seguramente um dos mais polêmicos na maternidade. Eu mesma, fui uma bezerrinha amamentada até quase os 2 anos. Quando eu me descobri grávida eu tinha duas certezas: Queria parto normal e iria amamentar. O primeiro não consegui, o segundo passou a ser uma questão de honra e claro que depois de superadas algumas dificuldades eu consegui, amamento o Samuel até hoje (já estamos em processo de desmame) e poderia doar leite para uns 2 bebês mais tamanha a produção. Mas como tudo na maternidade, nem tudo são flores e a coisa não é tão fácil e simples como se imagina.
Aqui na Costa Rica foi criado em 2009 uma Política Pública de Lactação Materna, o que determina que a amamentação materna é parte da saúde pública e que tanto as mães como as intituições de saúde, assim como os empregadores têm deveres e direitos a ser cumpridos. Essa política segue, na medida do possível as diretrizes recomendades pela OMS e pela Unicef entre outras organizações. Estabelece a amamentação como norma biológica e por tanto deve ser apoiada e incentivada exclusivamente até os 6 meses e como complemento até os 2 anos. Também estabelece que médicos, postos de saúdes, clínicas particulares e outros não devem promover a alimentação artificial, bem como o uso de chupetas e mamadeiras e também que as mães devem ter direito a informação através de clínicas guias, postos de saúde e funcionários de saúde.
O código do trabalho estipula que uma mãe em fase de lactação não pode ser despedida (se considera apenas um período de 3 meses após o parto)e que as funcionárias devem ter um espaço apropriado para a amamentação no local de trabalho. E tem direito a 1 hora e meia durante o horário de trabalho destinado a amamentar que pode ser dividido em 45 minutos de manhã e de tarde ou pode ser distribuidos da forma que a funcionária e o empregador concordarem.
Essa é a teoria, na prática nem sempre é assim. Na Costa Rica 96% dos bebês são alimentados com leite materna só ao nascer, o número cai pra 53% aos 3 meses e aos seis meses apenas 18% ainda recebem leite materna. A maioria das empresas não disponibilizam um espaço pra que a mãe possa amamentar e ir pra casa amamentar ou levar o bebê ao local de trabalho para que seja amamentado é inviável.
A informação ainda é muito escassa, durante todo o curso de parto esperei informação e apenas falaram sobre a forma correta de posicionar o bebê e pomadas para rachaduras. Em nenhum momento no entanto, ensinaram os exercícios para proteger a pele do bico e para bicos invertidos tão importantes para evitar as rachaduras (eu mesma quase não tive graças a eles) ou como fazer ordenha manual. Quase tudo o que eu aprendi sobre a amamentação foi com a minha mãe ou através da internet. Não há campanha como nós vemos no Brasil por exemplo e entre as mães a crença de que o leite materno é fraco e não sustenta ainda é muito forte.
No hospital, na sala de pós parto, se recebe uma pequena explicação de uma enfermeira encarregada de como deve ser a amamentação, forma correta de colocar o bebê e elas ajudam rapidamente àquelas mães que estiverem tendo maiores problema. Mas é só. Uma amiga que teve um bebê há 2 meses me contou que agora duram quase 1hora falando as vantagens, ensinando, convencendo as mulheres de que o leite não é fraco e que todas temos leite e todas produzimos. Tanto que essa amiga, mãe de outros dois alimentados com leite artificial voltou super empolgada e disposta a amamentar. Achei isso uma ótima novidade, já que se conseguiram transformar a forma de pensar dela, estão conseguindo o objetivo. Quando eu tive o Samuel eles recomendavam a livre demanda (foi oque eu fiz), agora parece que recomendam uma rotina de 3 em 3 horas.
Outro ponto positivo é a chamada Clínica de Lactação. Lá, um médico especialista ensina as mães de bebês com dificuldade para amamentar. Infelizmente, ninguém sabe que existe eu mesma só conheci porque o Samuel tinha dificuldade e perdeu muito peso na primeira semana e na primeira consulta de controle a médica me mandou pra lá. Eles ensinam a forma correta, verificam se o bebê sabe sugar e ensinam a estimular a sucção em caso de que ele não saiba, ensinam a translactação às mães de bebês que ficaram internados e receberam o leite por sonda e que nào pegam o peito. Enfim. é uma ótima proposta muito pouco aproveitada e apoiada já que a tal clínica fica numa salinha de 1m² e quase ninguém sabe nem onde fica. O médico, um visionário foi ao Brasil conhecer os Bancos de Leite e sonha em implantá-los por aqui, ainda não conseguiu.
Para concluir, apesar de incentivada a amamentação, de ser a melhor opção para o bebê, de conhecidos os benefícios, a amamentação ainda é muito pouco acreditada por parte das mulheres. Muitas desistem diante dos percalços no caminho. Não, não é nada simples e fácil como a gente imagina. Dói, é cansativo porque só a mãe pode fazer, ás vezes incomodo, se o peito fica muito cheio ou vaza, mas para mim sempre foi a única opção e apesar de já estar cansada depois de 1 ano e 7 meses eu me orgulho do Samuel ter sido amamentado prolongadamente e faria de novo.
O leite materno é sim a melhor escolha, é infinitamente mais barato, e sim alimenta e enche a barriga do bebê. Ele só tomou leite materno e depois que aprendeu a tomar direitinho ele engordava até mais do recomendado ás vezes. Ah e pras mamães preocupadas com emagrecer o peso da gravidez, nada melhor que amamentar, eu mesma comia muuuuito e ainda emagreci uns 10 quilos só amamentando.
Enfim, espero ter contribuído e aclarado alguns pontos sobre o tema. E se alguém me perguntar eu sempre vou recomendar a amamentação. Dê uma chance à natureza, ela sabe das coisas, afinal não é por nada que somos mamíferos não é mesmo???
Se você quiser saber mais sobre outras experiências com a amamentação e/ou como funciona em outros países visite o site Mães Internacionais.
* Fontes: Ley N° 7430 FOMENTO DE LA LACTANCIA MATERNA, http://www.ministeriodesalud.go.cr,Periódico La Nación.